ARGENTINA E REINO UNIDO: CONFLITO À VISTA?
Os textos a seguir são do "Tijolaço.com - O Blog do Brizola Neto", e alertam para a elevação de tensão entre Argentina e Reino Unido pela soberania das Ilhas Malvinas (tomados por força em 1833 e dominados a partir de então pelo Reino Unido). A tensão aumentou desde que o Reino Unido anunciou a exploração de petróleo nas ilhas. Os dois países já protagonizaram um conflito que deixou baixas dos dois lados, a Guerra das Malvinas, com vitória dos britânicos.
Petróleo nas Malvinas: argentino ou inglês?
fevereiro 3rd, 2010 às 15:54
Vai ser muito interessante a discussão que vai se travar sobre os direitos de exploração no petróleo que se supõe haver no mar próximo às Ilhas Malvinas, algo de que se fala há algum tempo mas que, agora, teve a sua exploração autorizada pelo governo inglês. Na segunda-feira, o jornal El Cronista publicou que a petroleira Desire Petroleum começará a buscar petróleo no arquipélago ainda neste mês. E há mais três empresas com autorização britânica para realizar exploração petroleira naquele território. As estimativas sobre a quantidade de petróleo contida ao lago das ilhas varia de 18 a 60 bilhões, o que seria, para comparação, algo na mesma ordem de grandeza que a Bacia de Campos. Mas isso é o que se sabe por enquanto. Pode ser muito mais. E agora, como Sua Majestade vai dizer que o interesse britânico é a defesa dos “direitos” dos tres mil súditos que aportaram naquelas paragens?Aquela esquadra imensa veio proteger mesmo as casinhas vitorianas erguidas numa ilha inóspita? Durante os anos 70, a marinha britânica enviou três missões de investigação oceanográfica, cujos resultados foram compilados no “Relatório Shackleton”, denominação que ganhou por causa de Lord Edward Shackelton, chefe da expedição. Segundo ele, as maiores reservas ficavam justamente entre as ilhas e o continente, isto é, a Argentina. Os argentinos, mesmo tendo perdido a guerra em 1982, continuam reivindicando as ilhas na ONU, que recomendou aos dois governos retomarem a negociação pela soberania das ilhas e aconselha ainda que nenhum dos dois países realize ações unilaterais sobre as Malvinas. Isto também é parte de um tratado anglo-argentino, de 1995, que orevia específicamente a exploração de petróleo como algo que só se poderia autorizar conjuntamente. Em 2007, por conta da autorização unilateral de pesquisas, os argentinos declararam extinto este acordo. O governo argentino protesto junto à representação diplomática da Grã Bretanha, e disse que “responsabiliza Londres por não respeitar as resoluções das Nações Unidas”. O Brasil deve acompanhar isso de perto e não negar solidariedade aos argentinos. Primeiro, porque é justo. Depois, porque a argentina, cuja petroleira YPF foi privatizada, criou outra empresa, a Enarsa, com poderes para operar as reservas petrolíferas offshore do país, em regime muito semelhante ao de partilha que vamos adotar no pré-sal. E a Petrobrás, como se sabe, é a empresa mais capacitada a operar poços submarinos no mundo.
Petróleo faz Argentina limitar tráfego para as Malvinas
terça-feira, 16 fevereiro, 2010 às 21:31
A presidente Cristina Kirchner assinou hoje decreto estabelecendo que qualquer navio que parta de portos argentinos ou que atravesse suas águas territoriais com destino às Ilhas Malvinas esteja sujeito a vistoria prévia de sua carga. O motivo é a supeita de que levem carregamentos destinados ao início da exploração do petróleo encontrado- ao que tudo indica em grande quantidade - na costa das ilhas.
Embora o início da exploração de petróleo nas ilhas viole uma resolução da ONU, que estabelece que a utilização das riquezas naturais das malvinas e seu entorno seja feita de comum acordo entre argentinos e ingleses, estes estão iniciando a retirada de petróleo unilateralmente.
A reação da embaixada britânica foi afirmar que “o Reino Unido não tem qualquer dúvida sobre a sua soberania sobre as ilhas Malvinas e suas áreas circundantes marítimas e é evidente que a exploração de petróleo é um empreendimento totalmente legítimo”.
Nossa imprensa tem dado pouca atenção ao assunto, mas isso vai esquentar. É petróleo, pelo menos, equivalente ao da Bacia de Campos.
Prestem atenção nas Malvinas, diz respeito ao Brasil
quarta-feira, 17 fevereiro, 2010 às 1:45

Qualquer pessoa com conhecimentos básicos de logística de petróleo sabe que esta operação custará uma fortuna de centenas de milhões de dólares. Não existe base de terra minimamente próximas para essas plataformas, o que aumenta de forma gigantesca os seus custos. Cada equipamento e cada trabalhador terá ser trazido de milhares de quilômetros de distância e nem mesmo aeroporto capaz de suportar vôos intercontinentais há na ilha, onde a maior pista é de 900 metros, 400 metros menor que a do nosso Santos Dumont. Fala-se em trazer materiais construir uma cidade para os trabalhadores. Da Inglaterra às Malvinas a distância é de mais de 12 mil quilômetros, em linha reta. Evitando as águas territoriais brasileiras, mais de 16 mil quilômetros.
Logo, um investimento desta monta não é feito senão com indícios de uma grande quantidade de óleo, que o torne economicamente viável e lucrativo para as empresas petroleiras.
E se há petróleo em quantidade, haverá, tão certo como dois e dois são quatro, proteção militar a esta riqueza. Ou alguém acha que os ingleses vão deixar torres, terminais e navios ao alcance da aviação argentina em meia hora de vôo, sem proteção bélica?
E aí, meus amigos, estaremos diante de um dos maiores pesadelos militares que possamos ter: uma base militar aeronaval no Atlântico Sul, a pouco mais de três mil quilômetros – alcance de aviões de caça – de São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Sem falar na região do pré-sal. Do ponto de vista militar é muitíssimo pior do que as bases americanas na Colômbia.
O Brasil precisa entrar já nesta questão, diplomaticamente, antes que o impasse entre Londres e Buenos Aires se agrave mais ainda. Para começar, deixando claro que não aceitará a implantação de qualquer base militar extra-continental no Atlântico Sul. Não podemos tolerar a militarização de nossas vizinhanças e nem pretender sacrificar o povo brasileiro sendo obrigado a organizar defesas correspondentes a elas.
Esta história de petróleo nas Malvinas, eu venho dizendo aqui, se confirmada, vai ser um dos maiores impasses diplomáticos e militares que o nosso país terá de enfrentar.
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